quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016



LINCHAMENTO É COVARDIA (2)

O sociólogo José de Souza Martins, autor de Linchamentos – A Justiça Popular no Brasil, calcula que, nos últimos sessenta anos, entre 1 milhão e 1,5 milhão de brasileiros participaram de um linchamento ou tentativa de linchamento. É um sintoma de desagregação social, mas não é só coisa de desordeiros. Também envolve gente que está numa busca desesperada por ordem e segurança, gente que está exausta com a incompetência do poder e das instituições para garantir a paz social.
         Essas pessoas lincham para punir o criminoso, para vingar-se. As pesquisas mostram que, em geral, os linchamentos duram de cinco a vinte minutos, contam com mais de 200 pessoas, ocorrem em lugares abertos, nas grandes cidades, e as vítimas são homens. No bairro em que já houve um linchamento, é mais provável que haja outro, como se a consciência social daquela comunidade estivesse rompida.
         Um ano depois do linchamento de Fabiane, A Tribuna, que circula no Guarujá, noticiou que as redes sociais difundiam novo boato sobre um casal de sequestradores em São Vicente, no litoral paulista. O jornal dizia que era só boato. A Testemunha A recebeu e-mail de um amigo. Dizia: “ Está começando tudo de novo”.
         A Testemunha A não foi indiciada. Fechou a página do Guarujá Alerta, perdeu o emprego, escondeu-se com medo de agressões, até mudou de cidade por um tempo, mas voltou para o Guarujá.
         Conta que um dia viu Jaílson, o viúvo, na fila de uma casa lotérica, mas não falou com ele. Hoje, sua rotina voltou a incluir o mundo digital. “Mexo nas redes sociais normalmente.” Jaílson, que há quatro anos doou seu computador a um centro espírita, está novamente conectado. “Mandei montar um computador, porque sai mais barato”, disse. Como monitor, usa sua TV de 32 polegadas. O advogado Airton Sinto sugeriu ao deputado federal Ricardo Izar que apresentasse um projeto criminalizando quem difunde boatos na internet. O projeto está em tramitação. A rua onde mora a mãe de Fabiane, em Morrinhos, chamava-se Travessa 222.
         Por iniciativa de um vereador amigo da família, chama-se agora “Rua Fabiane Maria de Jesus”. A bicicleta que Fabiane usava quando foi linchada nunca mais apareceu. Jornalista Léo. (LM jornalistaleo@radiosentinela.com.br  www.radiosentinela.com.br 10-02-16)

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