LINCHAMENTO É COVARDIA (1)
“O
linchamento não é só coisa de desordeiros. Também envolve gente que está numa
busca desesperada por ordem e segurança, gente que está exausta com a
incompetência do poder e das instituições para garantir a paz social”.
No Brasil, a cada dia ocorrem quatro linchamentos, ou
tentativas de linchamento, numa rotina de brutalidade que só rivaliza com os
pontos mais infernais do planeta.
Mas a morte de Fabiane teve repercussão incomum. Os jornais
a noticiaram em toda a largura das páginas, o enterro de Fabiane teve ampla
cobertura, o Fantástico, da Rede
Globo, exibiu reportagem de oito minutos e meio no domingo seguinte. O choque
nacional se devia à brutalidade do linchamento, exposta cruamente nas imagens
de celular, e também ao equívoco que levou a multidão a linchar a “pessoa
errada”. Fabiane era uma dona de casa pacata, casada havia dezesseis anos,
religiosa que frequentava a Igreja de São João Batista, mãe amorosa de duas filhas.
Se a multidão tivesse linchado a “pessoa certa”, talvez o crime do Guarujá
tivesse linchado a “pessoa certa”, talvez o crime do Guarujá tivesse sumido sob
o mesmo silêncio que cobre a imensa maioria dos linchamentos que ocorrem no
país.
Das 300, ou 1000, ou 3000 pessoas presentes, a polícia
indiciou cinco. Todos homens, e todos, à exceção de um, admitira algum grau de
envolvimento. Lucas Rogério Fabrício Lopes, “20 anos, branco, ajudante-geral”,
reconheceu ter batido com a bicicleta em Fabiane, mas disse que não teve
"intenção de matar ninguém”. Jair Batista dos Santos, “36 anos, pardo,
carpinteiro”, disse que jogou Fabiane da passarela, mas o fez para protegê-la
da fúria coletiva. Carlos Alex Oliveira de Jesus, “25 anos, branco, sem
profissão definida”, afirmou ter levantado a cabeça de Fabiane pelos cabelos,
quando ela estava de bruços, e depois ter batido “com a cabeça dela no chão”.
Abel Vieira Batalha Junior, “19 anos, pardo, sem profissão definida”, nega
qualquer agressão. Valmir Dias Barbosa “50 anos, branco, sem profissão
definida”, pai de cinco filhos, confessou ter dado “uma paulada na cabeça da
vítima”, mas ressalvou que sua motivação “não foi de matar, mas apenas de
revolta”. Todos estão presos à espera de julgamento. Jornalista Léo. (LM jornalistaleo@radiosentinela.com.br www.radiosentinela.com.br
10-02-16)
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