HÁBITOS CARIOCAS NA VISÃO DA
AMERICANA PRISCILLA (1)
Também a mentirinha carioca, aquela que não prejudica;
não machuca, mas que existe, existe.
Olhar
estrangeiro são mais ou menos assim
Hora marcada no Rio é “por volta de”. Àqueles com que
jamais vou me encontrar de novo cabe um “a gente se vê” ou um “te ligo”. Assim
é o Rio, mermão. Valeu, beleza! Priscilla Ann Goslin, escreve e eu abono.
Vinte anos atrás, eu me aventurei a escrever um livro que
ensinasse aos recém-chegados à Cidade Maravilhosa o jeito de ser dos cariocas.
Para uma americana de ascendência finlandesa e nenhum
samba no pé, era como traduzir o intraduzível – decodificar espírito dos
habitantes da cidade mais incoerente da Via Láctea.
Na ocasião, ainda estagiária em carioquice, sofria de uma
boa dose de ingenuidade.
Pensava: “Será que serei banida?”.
Não fui. Além do privilégio de morar na cidade de
encontrados mil, acabei sendo abraçada pelos mais roxos dos cariocas da gema
nesta minha aventura insólita. Fiz o livro para os turistas, mas aí os cariocas
começaram a rir.
-
Cara, nunca reparei que balanço meu cabelo quando saio do mar... Pô, achava que
todo mundo puxava conversa com estranhos na rua... Qual é, não são todos que
saem pra night de chinelo de dedo?
É preciso um olhar estrangeiro para ver o que é vedado
aos nativos.
Mas o que é ser carioca? Falou bem o nosso saudoso
Vinicius de Moraes: “Ser carioca é, antes de mais nada, um estado de espírito”.
O espírito carioca é indomável e contagioso. Ninguém
passa imune. Até os quadris mais desajeitados vão se soltando, sem falar da
alma.
Para o estrangeiro, ser carioca é retornar ao seu id
primordial. É descartar as camadas de restrições autoimpostas pela moralidade
anglo-saxã. Leveza pura. Sim, foram os franceses que criaram o termo joie de vivre, mas os cariocas
aperfeiçoaram a arte.
Carioca vive com entusiasmo e uma espécie de otimismo
ensolarado, capaz de apreciar a beleza nas pequenas coisas, convencido de que o
universo é essencialmente uma entidade benigna.
Enfim, a maior carioquice é achar natural deparar todos
os dias com a beleza das paisagens. Ser carioca é amar a cidade
incondicionalmente. E, quanto mais carioca você é, mais você ama o Rio.
Pelo olhar de fora, o Rio de Janeiro transcende as
cidades normais. Existe uma sinergia perfeita entre o habitante e seu meio.
Todos os sentidos são alimentados pelo clima, pela música, pelo samba, pela
comida, pelo futebol, pela praia, pelos sorrisos à toa, pela constante onda de
bom humor que envolve a cidade.
Ela te acolhe, te faz sentir bem com a vida. Para o
estrangeiro, é uma atração visceral. Essa é a essência que faz da carioquice
uma cultura divertida, diferente de tudo o mais. Continua... Jornalista
Léo. (LM jornalistaleo@radiosentinela.com.br www.radiosentinela.com.br
15-01-2015)
Nenhum comentário:
Postar um comentário