sexta-feira, 15 de janeiro de 2016



HÁBITOS CARIOCAS NA VISÃO DA AMERICANA PRISCILLA (1)

            Também a mentirinha carioca, aquela que não prejudica; não machuca, mas que existe, existe.

Olhar estrangeiro são mais ou menos assim

            Hora marcada no Rio é “por volta de”. Àqueles com que jamais vou me encontrar de novo cabe um “a gente se vê” ou um “te ligo”. Assim é o Rio, mermão. Valeu, beleza! Priscilla Ann Goslin, escreve e eu abono.
            Vinte anos atrás, eu me aventurei a escrever um livro que ensinasse aos recém-chegados à Cidade Maravilhosa o jeito de ser dos cariocas.
            Para uma americana de ascendência finlandesa e nenhum samba no pé, era como traduzir o intraduzível – decodificar espírito dos habitantes da cidade mais incoerente da Via Láctea.
            Na ocasião, ainda estagiária em carioquice, sofria de uma boa dose de ingenuidade.
            Pensava: “Será que serei banida?”.
            Não fui. Além do privilégio de morar na cidade de encontrados mil, acabei sendo abraçada pelos mais roxos dos cariocas da gema nesta minha aventura insólita. Fiz o livro para os turistas, mas aí os cariocas começaram a rir.
- Cara, nunca reparei que balanço meu cabelo quando saio do mar... Pô, achava que todo mundo puxava conversa com estranhos na rua... Qual é, não são todos que saem pra night de chinelo de dedo?
            É preciso um olhar estrangeiro para ver o que é vedado aos nativos.
            Mas o que é ser carioca? Falou bem o nosso saudoso Vinicius de Moraes: “Ser carioca é, antes de mais nada, um estado de espírito”.
            O espírito carioca é indomável e contagioso. Ninguém passa imune. Até os quadris mais desajeitados vão se soltando, sem falar da alma.
            Para o estrangeiro, ser carioca é retornar ao seu id primordial. É descartar as camadas de restrições autoimpostas pela moralidade anglo-saxã. Leveza pura. Sim, foram os franceses que criaram o termo joie de vivre, mas os cariocas aperfeiçoaram a arte.
            Carioca vive com entusiasmo e uma espécie de otimismo ensolarado, capaz de apreciar a beleza nas pequenas coisas, convencido de que o universo é essencialmente uma entidade benigna.
            Enfim, a maior carioquice é achar natural deparar todos os dias com a beleza das paisagens. Ser carioca é amar a cidade incondicionalmente. E, quanto mais carioca você é, mais você ama o Rio.
            Pelo olhar de fora, o Rio de Janeiro transcende as cidades normais. Existe uma sinergia perfeita entre o habitante e seu meio. Todos os sentidos são alimentados pelo clima, pela música, pelo samba, pela comida, pelo futebol, pela praia, pelos sorrisos à toa, pela constante onda de bom humor que envolve a cidade.
            Ela te acolhe, te faz sentir bem com a vida. Para o estrangeiro, é uma atração visceral. Essa é a essência que faz da carioquice uma cultura divertida, diferente de tudo o mais. Continua... Jornalista Léo. (LM jornalistaleo@radiosentinela.com.br  www.radiosentinela.com.br 15-01-2015)

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