sexta-feira, 21 de agosto de 2015



GETÚLIO DORNELES VARGAS
Após a renúncia o suicídio

O tom trágico se impõe no lembrar fim de “agosto”
       A notícia de que Getúlio atirou no próprio coração após reunir-se com seus ministros no Palácio do Catete provoca comoção nacional, mudando a opinião pública de uma hora para outra.
         De presidente odiado, Getúlio se transforma em herói e leva às ruas milhares de pessoas que disputam um lugar na sede do governo para despedir-se de seu mártir.
         Os políticos que estavam prestes a abandonar o barco, como o senador Vitor Freitas, do PSD, voltam aos microfones para homenagear pela última vez a figura daquele que saiu da vida para entrar na história. Demagogia se mistura a sentimentos autênticos!
         Com metade do corpo para fora da cama, Getúlio sangra: atirou contra o próprio peito com um Colt calibre 32. A morte foi instantânea. A autópsia no corpo de Getúlio foi realizada ainda no Palácio do Catete. O cadáver está sendo embalsamado para o transporte a São Borja (RS), local já definido do sepultamento.
Carta-testamento
       Logo após a descoberta do corpo, Lutero Vargas encontrou a carta-testamento. Uma cópia já estava com João Goulart, o herdeiro político escolhido pelo próprio Vargas. Como veio a público após um momento de tamanha dramaticidade, o texto com certeza deverá ser lembrado por séculos. “Serenamente, dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”, escreveu o presidente. Neste primeiro dia sem Getúlio, é fácil concluir que sua memória será cultuada por décadas. Séculos talvez.
Humildes
       Rio, 24 (Rádio Press) – Além da carta deixada sobre sua mesa de trabalho e em que o presidente se despedia do povo, foi encontrado ao lado de seu corpo um bilhete com os dizeres:
                 À sanha dos meus inimigos deixo o legado de minha morte. Sinto não ter podido fazer pelos humildes tudo o que desejava”.
         Assim que soube da morte de Getúlio, o prefeito de Joinville, Rolf Colin, inovou uma lei federal determinando o fechamento das repartições públicas e a suspenção das atividades no comércio e indústria.
         Em Florianópolis, o correspondente do jornal “A Hora”, de Porto Alegre, Salim Miguel, 30 anos, qualificou o gesto de Getúlio como a tentativa de evitar que grupos ligados a Carlos Lacerda chegassem ao poder.
         De Porto Alegre, Nelson Pedrini, 19 anos de idade, relata assustado os tumultos ocorridos na capital gaúcha. “Acabei de ver um senhor apanhar apenas porque não quis tirar o chapéu quando passou a estandarte de Getúlio”, diz o estudante de direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
         Conforme o relato do estudante de medicina Jaison Tupy Barreto, 20 anos, catarinense residente no Rio de Janeiro, a manifestação nas ruas da capital federal já pode ser considerada inesquecível.
         Assim que a Rádio divulgou a morte, todos correram para o Palácio do Catete atrás de informações. Eu fui junto, assim como no féretro até o aeroporto Santos Dumont, de onde o corpo seria levado para o Sul”, relata Jaison. Com a morte de Getúlio, o estudante de medicina, até então adversário do presidente, revisou imediatamente seus conceitos. “Com a tragédia, se esquece um pouco da ideologia”.
         Como no restante do País, o suicídio de Vargas pegou Santa Catarina de surpresa. “Todos ficaram muito chocados. Ele tinha uma imagem muito boa entre eles”.
         Com 22 anos de idade, o estudante de direito em Florianópolis Paulo Macarini ainda se contorcia com as dores da derrota do seu PTB no recém-criado município de Capinzal quando soube pela Rádio Nacional da morte do líder maior do partido.  Jornalista Léo.

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