terça-feira, 10 de março de 2015

CRACK: NUNCA MÃE (05)
CONTINUAÇÃO – Em 08 de dezembro às 16h43min de 2014, continua a entrevista da VEJA com a ex-estudante Lígia, agora perdida no mundo do CRACK.

Outra Recaída, mais uma reincidência

É possível mais uma visita à Favela Esmaga Sapo e, finalmente, o crack proclamou sua vitória sobre Ligia. O repórter e o fotógrafo de VEJA a encontraram em um barraco de tabuas, fincado às margens de um canal de esgoto, fumando crack com uma moradora.
Ela pediu dez minutos para se recompor. Ao final desse período, tirou uma pedra presa ao elástico da calça e começou a preparar mais um cachimbo.
E outro, e outro... “Só mais esta”. insistia. Ligia repetiu o ritual diversas vezes por cinco horas. Com toda a droga consumida, ela passou a procurar freneticamente por alguma pedra de crack extraviada no chão, enquanto dizia: “Só mais uma...”
A recaída é uma consequência quase certa para os viciados em crack que tentam largar a droga sem um acompanhamento médico e psiquiátrico constante. Depois de um período sem fumar.
É possível vencer o crack, mas não sem tratamento, diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Mesmo para quem passa por internações e recebe o devido acompanhamento, a taxa de reincidência chega a 15%. A compulsão pela droga se explica pela sua dinâmica no organismo. O crack inalado leva apenas oito segundos para elevar a produção de dopamina no cérebro, criando uma sensação imediata de prazer.
Esse estado, porém, dura pouco. O efeito da droga passa em cinco minutos – enquanto o da cocaína leva até 45 minutos para se dissipar. Por isso, o usuário de crack tende a recorrer a uma pedra atrás da outra.
“O fato de a pessoa que acredita ter vencido a droga voltar a frequentar os locais e a visitar pessoas que sempre estiveram associados à sua dependência é um comportamento comum e arriscado.”
Passado o efeito do crack, Ligia teve uma crise de choro entremeada de um monólogo desesperado: “Aceito tudo, mas não vou me separar de minha filha”. Desta vez o amor de mãe falou mais alto que o pernicioso e degradante vício do CRACK.

Nenhum comentário:

Postar um comentário